O Valor do Talento
Vivemos hoje num mundo revolucionado pelo conhecimento e tecnologias, que avança sobre inovações, as mais desafiantes. Os produtos que comandam o desenvolvimento são de alto conteúdo técnico que, para serem concebidos e produzidos, dependem de atributos, como o talento das pessoas e, generalizadamente, da população. Nasce uma nova Era do Talento, um determinante fator no sucesso entre países.
Talento é a aptidão das pessoas de pensar, criar, decidir e realizar. Embora talento sempre tenha sido reconhecido no passado, na atualidade e mais do que nunca, quem administra um negócio afirma o quanto é importante trabalhar e contar com as pessoas certas.
As empresas vitoriosas recrutam nas escolas mais seletivas, oferecem excelentes pacotes de remuneração, benefícios e um ambiente de trabalho confortável.
Infelizmente, o quadro geral atual mostra que até mesmo as melhores empresas estão enfrentando lacunas crescentes para selecionar talentos nas qualificações que necessitam. E, isso, dizem os especialistas, tende a piorar, em particular nos países que mais deles precisam — isto é, os menos desenvolvidos. Empresas mundiais de consultoria divulgam uma crescente incompatibilidade fundamental entre a procura e a oferta, mostrando que a formação de pessoas talentosas não tem tido sucesso na escala que é desejada.
A vitória sobre a competição do mundo global no qual vivemos claramente depende de especialistas dotados das habilidades certas. Estamos em frente a um novo paradoxo da produtividade, nas quais a automação está ocupando espaços. Assim, mesmo que sua força de trabalho seja altamente qualificada para os padrões atuais, rapidamente ela pode estar superada amanhã.
Historicamente, as empresas que trabalhavam com os melhores padrões de tecnologias, práticas e processos, passaram a produzir mais e se mantinham ativamente como dominadoras nos seus mercados. No entanto, tudo isso começou a quebrar a partir da década de 1980 pois, com o aumento da automação, o trabalho começou a ser substituído por investimentos de capital. Assim, nos próximos anos, o problema vai se agravar à medida em que máquinas assumam até mesmo no que já foi considerado tarefas exclusivas de pessoal altamente qualificado. É um processo que realmente está apenas começando. As tecnologias continuarão a acelerar sua introdução e ninguém estará fora deste cenário generalizado.
Nas gerações passadas, em alguns países como o nosso Brasil a prosperidade tem sido limitada por baixa qualidade da força de trabalho e não por culpa da nacionalidade ou por culpa da etnia. Mas pela insuficiente qualidade da educação que tem prevalecido nas mais amplas regiões, produzindo colaboradores de insuficiente qualificação.
Deste modo, neste futuro os especialistas têm de ser multifuncionais. Engenheiros que escrevem bem. Agronegócio preocupado com design. Países produtores de matérias-primas transformados em fabricantes de produtos sofisticados. Em pesquisas globais, que envolveram 103 países e mais de 90% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, o Brasil ocupou a 59ª posição.
As razões do nosso fraco desempenho surgem do ensino deficiente ou dos poucos investimentos destinados à educação e à inovação. A estatização, a predileção de jovens por concursos públicos e a mentalidade vigente na maioria das universidades brasileiras prevalece a de não “se submeter à lógica do mercado”.
Os brasileiros nascem hoje com expectativa de viver mais de 75 anos. Sem o potencial do talento, terão pouca utilidade na nova economia do conhecimento. Não podemos permitir que isso aconteça! O Brasil tem de alimentar sua elite de talentos para que ela própria não seja crescentemente marginalizada da redefinição dos rumos globais.
Temos de nos lembrar que a educação e treinamento são fundamentais e que nossos mercados internos estão inundados com a importação de países menos dotados do que o nosso. E poucos produtos brasileiros são encontrados nos mercados mundiais!
Texto: Ozires Silva - Engenheiro aeronáutico e fundador da Embraer
Fonte: www.ovale.com.br