É sempre gratificante selecionar conteúdo do blog Pery de Serra Negra. Numa linguagem muitas vezes poética, histórias, "causos", experiências de vida estão disponíveis para leitores de todas as idades.
Boa leitura.
Bom domingo!
Palestra dada aos alunos do Aeroclube do Rio Grande do Norte
Por Pery Lamartine
Em 09.08.2010
Vocês estão iniciando um curso de “piloto privado” que poderia também ser chamado de “curso primário”.
É por aí que se inicia a carreira de “piloto-aviador”.
Os primeiros passos são dados nesses pequenos aviões “treiners”.
Com o surgimento dos chamados ultraleves, ou “experimentais”, causou uma certa confusão na classificação dos pequenos aviões.
Eles foram classificados pelo peso o que levou os antigos e ótimos aviões dos aeroclubes a categoria de experimentais, uma injustiça, no meu ponto vista.
O ultraleve,pode-se dizer que, é como se fosse uma jangada, e os aviões tipo Piper, AeroBuero, Paulistinha e outros, seriam as lanchas esportivas. Espero que o Governo um dia revise essa classificação.
No ultraleve, pela precariedade na sua construção, não se consegue transmitir ao aluno uma pilotagem de qualidade o que não acontece nas avionetas dos aeroclubes.
Mas continuemos:
Vamos primeiro situar vocês dentro deste “nosso” aeroclube; é uma instituição pioneira no Brasil.Quando foi inaugurado no dia 29 de dezembro de 1928, somente existia no país o Aeroclube do Brasil, que só fazia emitir títulos (Brevet), para as pessoas que haviam feito o curso nas escolas particulares existentes em São Paulo.
Na primeira fase, o Aeroclube do Rio Grande do Norte, teve uma vida muito curta. Não chegou a completar dois anos de vida.
Quando estava em plena atividade, formando pilotos, veio a chamada “Revolução de 30”, ( 03 de novembro 1930 ) que fechou o clube.
Os aviões – eram dois biplanos “treiner” de fabricação inglesa chamados “Blue-Bird” que o Aeroclube havia importado diretamente da Inglaterra.
Um desses aviões caiu com o piloto Edgard Dantas,vindo ele a falecer, ali mesmo no Aeroclube.
Por ordem da revolução, o Instrutor Djalma Petit retornou ao Rio de Janeiro levando o “Blue-Bird” restante. Nos dois anos que funcionou, ainda diplomou uma turma, foram eles:
Fernando Gomes Pedroza, Eloi Caldas, Aldo Cariello, Octávio Lamartine e Edgard Dantas.
Houve outro candidato que não concluiu o curso, chamado Plínio Saraiva. Ele só fez a conclusão, quando o Aeroclube foi reativado em 1942, doze anos depois.
O instrutor era uma oficial da aviação naval, cedido ao Governo do Rio Grande do Norte, chamado Djalma Petit.
Foto da 1ªTurma de alunos da Escola de Aviação do Aero-Clube
Em 1942, a 2ª.Guerra Mundial estava a todo vapor, quando surgiu no Brasil a Campanha Nacional de aviação, apoiada pelo jornalista Assis Chateaubriand dos “Diários Associados”, com o objetivo de criar a reserva da Força Aérea Brasileira.
O Brasil estava mandando tropas para Europa ( AeronáutIca também enviou um contingente) e a nossa Força Aérea não tinha nenhuma reserva. Na época foi fundado dezenas de Aeroclubes por todo o país e o nosso que havia sido desativado em 1930, foi reativado.
Daquele ano até hoje vem funcionando com atropelos por questões de natureza administrativas. É uma instituição que merece ser preservada pela sua história e pelo o que pôde fazer em prol da Aviação.
Hoje existem alguns pilotos formados aqui trabalhando nas companhias aéreas e tem motivado alguns jovens a entrar na aeronáutica. Conhecí pessoalmente pelo menos um deles (Capitão Aviador Clidenor do Lago Filho, hoje já falecido).
Está aí um pouco da história muito resumida do Aeroclube do Rio Grande do Norte. Um clube que merece o nosso respeito.
Como toda instituição que ensina aviação, também teve seus sinistros, em número de cinco mas a análise de cada um conclui-se que houve falha humana. Daí porque vou fazer adiante algumas recomendações que ajudarão a fazer um bom curso e preparar bons pilotos.
Recomendações aos candidatos a aviadores:
1. Siga sempre as determinações do seu instrutor. Ele está ali para passar a você os conhecimentos que adquiriu depois de demorado treinamento.
2. O avião é uma máquina quase perfeita. Está sujeita a defeitos. Todo cuidado é pouco para garantir a sua segurança enquanto estiver com ele em uso. Já ouvi de um especialista uma frase corretíssima sobre “acidentes aéreos”; um certo advogado americano que trabalha para as Seguradoras, especializado em encontrar a causa dos acidentes, falou a seguinte frase:
"Acidentes aéreo não é um desígnio de Deus, ele acontece porque alguém cometeu algum erro.”
É portanto um dever de todos que se envolvem com o avião, está sempre atento para evitar falhas humanas que levam a acidentes.
3. O excesso de entusiasmo tem sido a causa de um grande numero de acidentes. Contenham-se.
4. O corpo do aviador é como se fosse uma peça de toda estrutura que é o avião. Deve-se encarar como tal. Por exemplo: senta-se na poltrona de comando, de forma confortável, totalmente descontraído para poder sentir o avião como um todo.
No popular, o instrutor poderá dizer, sinta o avião na bunda.
Sobre esse assunto Saint-Exupéry, que pilotava um hidro-avião, escreveu um texto um tanto poético mas que exprime bem esse fato:
“Quando os motores começam a girar, quando o avião já sulca o mar, seu casco soa como um gongo ao choque das marolas e o piloto sente nesse momento o tremor de seus rins.
Sente que o hidroavião, segundo por segundo, à medida que vai ganhando velocidade, vai se enchendo de poder...”
5. Acrobacia, nem pensar. Isso é assunto para após o curso quando o jovem já é piloto, dominando totalmente o avião. Não confundir acrobacia com manobras acrobáticas.
Acrobacia é “show aéreo”, aquilo que a Esquadrilha da Fumaça faz. Manobras acrobáticas são certas situações que se faz durante o curso para desenvolver a coordenação de comando e o aluno saber sair de situações embaraçosas.
6. O parafuso se faz para que o aluno saiba não entrar e saber sair se isso vier acontecer acidentalmente. Uma curva muito fechada e mal feita pode levar a um “parafuso acidental”.
7. Estol é para o aluno sentir até onde o avião se sustenta no ar.
8. Exercício de coordenação de comando, para o aluno saber o quanto de pé e mão pode ser aplicado durante a pilotagem.
9. Oito sobre pontos de referência – para desenvolver a coordenação de comando.
Pelo o apresentado conclui-se que a “coordenação de comando” é o ponto fundamental para uma boa pilotagem e dá a segurança ao piloto, contra acidentes.
O “Manual de Pilotagem” é indispensável para se estudar a teoria do voo mas deve ser sempre conferido com as reações do avião durante o voo.
São inúmeras as recomendações que se deve fazer sempre ao pretendente a aviador; mas se perderiam se fosse expostas sem o contato com o avião. No decorrer do treinamento, o instrutor vai localizando os casos e mostrando na prática como deve ser tratado.
Oito mandamentos para segurança do voo:
1. Todo acidente resulta de uma sequencia de erros e não de uma causa isolada.
2. Todo acidente tem um precedente.
3. Prevenção de acidentes é uma tarefa que requer mobilização geral.
4. O propósito da prevenção de acidentes não é restringir a atividade aérea, mas sim estimular o seu desenvolvimento com segurança.
5. Comandantes, Diretores e Chefes são os principais responsáveis pelas medidas de segurança.
6. Em prevenção de acidentes não há segredos nem bandeiras.
7. Acusações e punições agem diretamente contra os interesses da prevenção de acidentes.
"O acidente que não podia ter sido evitado pelo piloto é quase inexistente"– disse certa vez o escritor-aviador Richard Bach em um dos seus livros.