O INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica publica uma coletânea denominada "Ideias em Destaque" que aborda imensa variedade de assuntos ligados à Aviação. Da edição número 50, do segundo semestre de 2017, selecionamos e publicamos a seguir o artigo de Manuel Cambeses Júnior. Ilustrando ainda mais a riqueza dessa história, reproduzimos vídeos realizados pela Universidade da Força Aérea e o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, quando da retrospectiva dos 100 anos do Campo dos Afonsos (1912-2012).
Boa leitura.
Bom domingo!
A saga do Campo dos Afonsos
Manuel Cambeses Júnior
A História nos permite recordar as inumeráveis ações de patriotas
decididos e intrépidos precursores da aviação brasileira, que
não se intimidaram ante a magnitude do desconhecido, a limitação
de recursos, nem os constantes perigos de uma atividade aérea ainda
no nascedouro, e que encararam um desafio como a grande obra de
suas vidas, a ativação do Campo dos Afonsos.
No início do século XX, um pugilo de notáveis brasileiros e bravos aviadores, movidos pelo nobre ideal de impulsionar a aviação em nosso país, tiveram a benfazeja ideia de criar um local que viesse a alavancar a então incipiente atividade aérea no Brasil.
Em realidade, os Afonsos iniciaram sua centenária trajetória
aeronáutica sob o suor de seus valorosos e intrépidos homens, impulsionados
pela chama viva do anseio que empolgava seus protagonistas,
no sentido de participar intensamente do desenvolvimento da
Aeronáutica brasileira, ademais de servir à Pátria até ao ato extremo,
sacrificial da própria vida.
Em 1912, o Campo dos Afonsos iniciou a sua brilhante trajetória, quando passou a acolher o Aeroclube Brasileiro, com o objetivo de criar uma escola de aviação para civis e militares.
Dois anos
depois, ali foi criada a primeira escola nacional de aviação militar, a
Escola Brasileira de Aviação (EBA), que teve duração efêmera.
Desde então, através dos tempos, por ali desfilaram emblemáticas
aeronaves da era de ouro da aviação: Graf Zepellin,
Arc-en-Ciel, Blériot, Boeing, Waco e os famosos P-47, ademais de
célebres pilotos que se notabilizaram e se transformaram em verdadeiras
lendas, como Ricardo Kirk, Edu Chaves, Saint-Exupéry, Jean
Mermoz e Henri Guillaumet.
Berço da aviação militar brasileira, o legendário Campo dos
Afonsos consolidou-se, através dos anos, como um verdadeiro santuário
para pesquisadores da história da Aeronáutica brasileira.
O período compreendido entre os anos de 1912 e 1931 foi de grande desenvolvimento para a aviação brasileira, a partir do Campo dos Afonsos, pois as iniciativas pioneiras concernentes à formação de pilotos e especialistas, ademais da ativação do Correio Aéreo Militar, deram, nesse sítio histórico, os primeiros e significativos passos.
A História registra fatos marcantes envolvendo o Campo dos
Afonsos desde a sua criação. Em 1914, aviões partiram em direção à
região do Contestado e engajaram-se em atividades bélicas, e, de forma
direta, o Campo esteve envolvido nos movimentos revolucionários de
1922, 1924, 1930, 1932 e 1935.
Em 29 de janeiro de 1919, foi criada a Escola de Aviação Militar,
sob a direção da Missão Militar Francesa de Aviação.
Em 21 de maio de 1931, foi criado o Grupo Misto de Aviação, sendo substituído, em 1933, pelo Primeiro Regimento de Aviação.
Em
1937, o Oitavo Grupo de Aviação foi ativado em substituição ao Regimento.
Em 29 de julho de 1940, a Escola de Aviação Militar passou a
designar-se Escola de Aviação do Exército.
Fato altamente significativo ocorreu em 12 de junho de 1931,
quando a aeronave Curtiss Fledgling, de prefixo K-263, tripulada pelos
jovens tenentes Casimiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavenère-Wanderley, decolou do Campo dos Afonsos para uma viagem solitária
com destino a São Paulo.
O insólito voo foi o primeiro passo para a
criação e consolidação do Correio Aéreo Militar (CAM) no processo de
integração nacional.
Nos últimos 105 anos, o Campo dos Afonsos participou ativamente nas mudanças ocorridas na aviação brasileira e contribuiu, decisivamente, para um novo período da história da aviação que surgiu no Brasil, em 20 de janeiro de 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica.
Em 25 de março do mesmo ano, foi criada a Escola de
Aeronáutica, utilizando-se das mesmas instalações da Escola de Aviação
do Exército (antiga Escola de Aviação Militar).
Finalmente, em 1957, foi
criada a Base Aérea dos Afonsos.
Por meio desta breve pesquisa histórica, procuramos retratar alguns
fragmentos da saga do Campo dos Afonsos, local impregnado de
fantásticos acontecimentos que muito nos orgulham e que marcaram,
indelevelmente, a historiografia aeronáutica brasileira.
Desejamos que os edificantes exemplos legados pelos bravos e destemidos pioneiros – que deram o melhor de si, com obstinação e comovente denodo, para a materialização de um ardente ideal –sejam o farol a iluminar as novas gerações, no sentido de preservar a incolumidade desse notável patrimônio histórico-cultural, verdadeiro santuário da aviação militar brasileira.
Que as sábias palavras do insigne Brigadeiro do Ar Henrique
Raymundo Dyott Fontenelle ecoem por muito tempo nos corações e
mentes dos brasileiros responsáveis pela preservação desse valoroso sítio
histórico, considerado sagrado por várias gerações de aviadores:
“Não
deixeis apagar de vossa memória a nossa Escola, o seu velho, tradicional
e já lendário Campo dos Afonsos, onde tanto sacrifício e tanto heroísmo
tem sido imolado em holocausto ao mais belo e empolgante de todos os
ideais – A Aviação.”
Texto: Manuel Cambeses Júnior - Coronel-Aviador Reformado da FAB, membro emérito do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e Conselheiro do INCAER.
Vídeos: UNIFA e CECOMSAER
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