Nas vésperas do Natal, reproduzimos um texto selecionado pelo INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, disponibilizado na seção Um Voo pela História. A mensagem de desprendimento e de solidariedade aos aviadores, encontrada nas palavras de Mário Barbedo, é universal e deve ser absorvida por nossos Ninjas e compartilhada com os amigos leitores de nosso blog.
Boa leitura.
Boa reflexão.
Bom domingo!
Um Mártir Altruísta
Mário Barbedo
Em junho de 1917, em plena
I Guerra Mundial, o 2° Tenente Mário
Barbedo entre outros oficiais, foi
designado para realizar um curso de
aperfeiçoamento na escola de aviação
militar francesa. Dois anos mais tarde
foi escolhido para permanecer como
instrutor no Campo dos Afonsos,
onde voava constantemente nas
aeronaves trazidas pela Missão Militar
Francesa.
Infelizmente, em um dos voos
de treinamento, no dia 12 de maio
de 1919, o Ten Barbedo sofreu
gravíssimo acidente que o deixou
paralítico durante nove anos, até o
seu falecimento em 1928. Tal fato foi
bastante noticiado à época.
O Deputado Octávio Rocha
apresentou, no Congresso, um projeto
para promovê-lo ao posto de Capitão,
independentemente de vaga.
Barbedo respondeu ao Deputado,
com uma carta aberta, de alto valor
moral e desprendimento, cujo conteúdo,
parcialmente, transcrevemos abaixo:
Acabo de ler, nos diários da manhã, o
generoso projeto de sua autoria, propondo
minha promoção ao posto de Capitão...
Não tenho expressões para agradecer-lhe tão
grande bondade, mas sou levado, por questões
de princípio, a pedir ao meu ilustre camarada
a retirada do seu projeto. A promoção a
um posto imediato, por lei do Congresso
Nacional... deve ser justo prêmio a quem
se tenha notabilizado por algum feito de
heroísmo, ou de alto interesse para o Brasil.
O meu caso não é esse. O que fiz? Escolhi
a aviação como carreira...fui comissionado
para, com a Missão Francesa, formar um
núcleo de instrutores da Escola do Campo
dos Afonsos. Treinando diariamente, para
estar em forma e poder, com segurança,
instruir a primeira turma de candidatos
pilotos, sofri um terrível desastre em 12 de
maio do corrente ano.
Desde então, paralítico, preso ao leito
do Hospital Central do Exército, luto entre
a vida e a morte. E, no meio de minhas
cogitações sobre o futuro da Aviação no
Brasil, sobre a necessidade de cuidarmos
de incrementá-la, custem os sacrifícios que
custarem, eu me lembro não existir ainda,
entre nós, legislação protetora dos aviadores,
como há em todos os países do mundo.
Peço, por isso, ao meu generoso camarada,
que transforme a sua ideia em projeto de
caráter geral que venha servir-me e amparar
os meus colegas do Exército e da Marinha que
se dedicam aos perigos diários da aviação.
O projeto, em meu fraco entender, deve não
só prever os casos dos inválidos, melhorando
as condições de reforma, como os acidentes
mortais...
Queira aceitar, meu ilustre camarada,
os mais profundos agradecimentos de quem
jaz, há 5 meses e 6 dias, no hospital e que
deplora, acima de tudo , não ter podido dar
à aviação todo o seu esforço e toda a sua
dedicação, permitindo que se subescreva.
Seu camarada, ... MÁRIO BARBEDO
O martírio de um jovem oficial que,
além do sofrimento físico, tinha sua
carreira irremediavelmente cortada,
o desprendimento e o altruísmo do
valoroso militar que, acima dos seus
interesses pessoais, via os das famílias
dos aviadores, ainda não amparada
por leis adequadas, o idealismo
exaltado do aviador que, incapacitado
no seu leito de dor, clamava pela
necessidade de desenvolver a Aviação
no Brasil, a despeito de todos
sacrifícios, fazem do Tenente Mário
Barbedo uma figura heroica, digna
de ser, sempre, relembrada e imitada.
O seu sofrimento e o seu valor moral
muito influíram para que o Governo
providenciasse a legislação atual que
ampara as famílias dos aviadores
militares acidentados ou mortos no
cumprimento do dever.
Extrato de um dos capítulos do livro
“ História da Força Aérea Brasileira”
do Tenente-Brigadeiro Nelson Freire
Lavanère-Wanderley
Fonte: INCAER