Visualizações:

Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Especial de Domingo

Nas vésperas do Natal, reproduzimos um texto selecionado pelo INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, disponibilizado na seção Um Voo pela História. A mensagem de desprendimento e de solidariedade aos aviadores, encontrada nas palavras de Mário Barbedo, é universal e deve ser absorvida por nossos Ninjas e compartilhada com os amigos leitores de nosso blog.
Boa leitura.
Boa reflexão.
Bom domingo!

Um Mártir Altruísta
Mário Barbedo 

Em junho de 1917, em plena I Guerra Mundial, o 2° Tenente Mário Barbedo entre outros oficiais, foi designado para realizar um curso de aperfeiçoamento na escola de aviação militar francesa. Dois anos mais tarde foi escolhido para permanecer como instrutor no Campo dos Afonsos, onde voava constantemente nas aeronaves trazidas pela Missão Militar Francesa.
Infelizmente, em um dos voos de treinamento, no dia 12 de maio de 1919, o Ten Barbedo sofreu gravíssimo acidente que o deixou paralítico durante nove anos, até o seu falecimento em 1928. Tal fato foi bastante noticiado à época. O Deputado Octávio Rocha apresentou, no Congresso, um projeto para promovê-lo ao posto de Capitão, independentemente de vaga. Barbedo respondeu ao Deputado, com uma carta aberta, de alto valor moral e desprendimento, cujo conteúdo, parcialmente, transcrevemos abaixo: 

Acabo de ler, nos diários da manhã, o generoso projeto de sua autoria, propondo minha promoção ao posto de Capitão... Não tenho expressões para agradecer-lhe tão grande bondade, mas sou levado, por questões de princípio, a pedir ao meu ilustre camarada a retirada do seu projeto. A promoção a um posto imediato, por lei do Congresso Nacional... deve ser justo prêmio a quem se tenha notabilizado por algum feito de heroísmo, ou de alto interesse para o Brasil. O meu caso não é esse. O que fiz? Escolhi a aviação como carreira...fui comissionado para, com a Missão Francesa, formar um núcleo de instrutores da Escola do Campo dos Afonsos. Treinando diariamente, para estar em forma e poder, com segurança, instruir a primeira turma de candidatos pilotos, sofri um terrível desastre em 12 de maio do corrente ano. Desde então, paralítico, preso ao leito do Hospital Central do Exército, luto entre a vida e a morte. E, no meio de minhas cogitações sobre o futuro da Aviação no Brasil, sobre a necessidade de cuidarmos de incrementá-la, custem os sacrifícios que custarem, eu me lembro não existir ainda, entre nós, legislação protetora dos aviadores, como há em todos os países do mundo. Peço, por isso, ao meu generoso camarada, que transforme a sua ideia em projeto de caráter geral que venha servir-me e amparar os meus colegas do Exército e da Marinha que se dedicam aos perigos diários da aviação. O projeto, em meu fraco entender, deve não só prever os casos dos inválidos, melhorando as condições de reforma, como os acidentes mortais... Queira aceitar, meu ilustre camarada, os mais profundos agradecimentos de quem jaz, há 5 meses e 6 dias, no hospital e que deplora, acima de tudo , não ter podido dar à aviação todo o seu esforço e toda a sua dedicação, permitindo que se subescreva. Seu camarada, ... MÁRIO BARBEDO 

O martírio de um jovem oficial que, além do sofrimento físico, tinha sua carreira irremediavelmente cortada, o desprendimento e o altruísmo do valoroso militar que, acima dos seus interesses pessoais, via os das famílias dos aviadores, ainda não amparada por leis adequadas, o idealismo exaltado do aviador que, incapacitado no seu leito de dor, clamava pela necessidade de desenvolver a Aviação no Brasil, a despeito de todos sacrifícios, fazem do Tenente Mário Barbedo uma figura heroica, digna de ser, sempre, relembrada e imitada. O seu sofrimento e o seu valor moral muito influíram para que o Governo providenciasse a legislação atual que ampara as famílias dos aviadores militares acidentados ou mortos no cumprimento do dever. 

Extrato de um dos capítulos do livro “ História da Força Aérea Brasileira” do Tenente-Brigadeiro Nelson Freire Lavanère-Wanderley

Fonte: INCAER