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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Especial de Domingo

O Núcleo Infantojuvenil de Aviação - NINJA - selecionou, para este último Especial de Domingo de 2012, alguns momentos da obra A Volta por Cima, de Gérard e Margi Moss, publicada pela Editora Record. 
Boa leitura. 
Bom domingo. 
Até 2013! 

MUNDO MOSS: EXPEDIÇÃO VOLTA AO MUNDO
A maioria das pessoas começam com pequenos ensaios antes de embarcar numa grande viagem, mas com Gérard e Margi, foi o oposto. Em junho de 1989, eles decolaram do Rio de Janeiro para começar uma epopéia aérea que os levaria por um caminho tortuoso ao redor do mundo no seu pequeno monomotor, Romeo. Com esse voo, que terminou em fevereiro de 1992, se tornaram os primeiros brasileiros a dar a volta ao mundo em um avião leve. Visitaram cinquenta países em quatro continentes e atravessaram dois grandes oceanos, o Atlântico Sul (Recife-Fernando de Noronha-Ilha do Sal) e o Pacífico Sul (Austrália-Chile). Neste último trecho, estabeleceram um recorde mundial – o primeiro voo de monomotor a atravessar o Pacífico na rota Austrália-América do Sul. Os momentos memoráveis foram muitos: alcançar a cidade lendária de Timbuktu; encontrar os gorilas nas florestas do Zaire; mergulhar nas águas calidoscópios da Ilha de Sipadan no Bornéu; um piquenique no por de sol ao lado das mágicas moais na Ilha de Páscoa. E entre eles, houve aventuras mais preocupantes: voar numa tempestade de areia no Mali; pousar numa pista militar em Guiné-Bissau; a ameaça de ser interceptado por caças F-16 tailandeses; o princípio de um incêndio no motor; e finalmente, a quase perda do Romeo durante num furacão na Samoa Ocidental que durou 5 dias. Trinta e dois meses depois, pousaram de volta no Brasil. Foram: 120.000 km (3 vezes a circunferência da Terra); 700 horas de voo; 312 pousos; 132 $ para a taxa de pouso mais cara (São Tomé & Príncipe); 50 países; 32 meses; 4 continentes; 1,70 $, o quarto de hotel mais barato (Inhambane, Moçambique); 1 pneu furado; Zero pane de motor! A viagem rendeu um belo livro: A Volta por Cima, da Editora Record. Uma grande aula de geografia cheia de aventuras, uma inspiração para quem quer conhecer o mundo ou aprender a pilotar um avião!

TRAVESSIA DO ATLÂNTICO
22 de junho de 1989:
Eu ansiava pela terra firme de Fernando de Noronha, a ilha que deixamos para trás. Como desejava ainda estar lá! A vida parecera tão eterna, tão indestrutível enquanto caminhávamos de volta ao aeródromo após o jantar no único hotel da ilha, numa antiga caserna do exército americano. A estrada desdobrara-se à nossa frente como uma fita cinzenta, banhada pela claridade de uma lua oval palpável. Num coro estridente que vinha dos pântanos, centenas de sapos nos dedicaram uma serenata. De braços dados, acariciados pela brisa do mar, respirávamos fundo o ar cálido impregnado da fragrância do capim silvestre. Vivemos aqueles momentos intensamente, como se estivéssemos fazendo a contagem regressiva para um vôo espacial. O cenário era eletricamente romântico. Mas a apreensão pelo que estávamos por fazer – levantar vôo num pequeno avião e atravessar 1.350 milhas náuticas (2.500 km) do Oceano Atlântico – esmagou qualquer inspiração para um beijo apaixonado que poderia parecer uma despedida. Não era hora para despedidas: estávamos para começar a viagem de nossas vidas, em terras distantes e exóticas. Se ao menos conseguíssemos chegar ao outro lado… 

ANTANANARIVO, MADAGASCAR
22 de junho de 1990:
A capital, Antananarivo, “Cidade dos Milhares”, conhecida como Tana, encontra-se à altitude de 4.200 pés. Do aeroporto, em Ivato, a estrada até a cidade nos levava através de um cenário de filme medieval onde verdureiros agachados espalham mercadorias no chão, na frente de suas casas de dois andares, construídas em adobe vermelho, e telhados muito inclinados. Tana é dominada pelo Palais de la Reine onde uma mistura de estilos arquitetônicos pode ser vista na rova (residência real) no alto de um morro. Dos penhascos íngremes, descortinam-se impressionantes vistas da cidade e dos inúmeros guarda-sóis brancos do famoso mercado de Zoma, logo abaixo. Acometida por um frenético sentimento antieuropeu, após as invasões francesa e britânica, a Rainha Ranavalona I perseguiu os cristãos convertidos, jogando-os desses mesmos penhascos. 

BOROBODUR, YOGYAKARTA, INDONÉSIA
03 de maio de 1991:
Ao amanhecer, poéticas penugens de fumaça rosada emergiram do Monte Merapi, o vulcão mais volátil de toda a Indonésia, que se ergue com seu cone perfeito ao lado da estrada que leva ao grande stupa budista em Borobudur. Construído entre 775 e 850 d.C. pelos budistas da dinastia Sailendra, foi misteriosamente abandonado seis anos após sua construção. Pouco a pouco, foi sendo engolido pela selva: a sedimentação e a umidade corroeram-no durante mil anos, até sua redescoberta pelo mundo em 1814. A Unesco promoveu um árduo programa de reconstrução. Readquiriu sua antiga glória em 1983. Tivemos o privilégio de circulá-lo do alto. Ficamos fascinados com seu desenho geométrico de quadrados dentro de quadrados moldados em um pequeno outeiro e coroado com quatro fileiras circulares. Do chão, estes desenhos não podem ser vistos pelos visitantes que entram pelo portão leste e vão subindo as camadas do stupa. Intricados painéis de relevos em pedra mostram a vida de Buda em batalhas históricas e cenas familiares. As fileiras superiores vão ficando mais simples, representando a aproximação de Buda à Iluminação. Em cima, há três andares de stupas de treliças de pedra, como sinos petrificados. Antigamente, cada um continha uma estátua de Buda. Poucas permanecem, pois a maioria foi roubada por colecionadores de arte. 

ILHA DE PÁSCOA, CHILE
16 de janeiro de 1992:
 Aproximamo-nos de Rano Raraku (a cratera de onde as pedras dos moai foram esculpidos) pelo Camino de los Moais, ao longo do qual inúmeras estátuas haviam sido abandonadas, de cara para o chão. Era como se o trabalho de transportá-las até seu ahu tivesse terminado de repente, uma bela tarde. A maior delas deve pesar umas 80 toneladas. De que modo eles as levavam para o outro lado da ilha e conseguiam colocá-las em cima dos ahus? Camada sobre camada de estátuas inacabadas ainda permanecem presas ao vulcão extinto. As cabeças de uma outra dúzia surgem dos morros, enterradas até o peito no antigo cascalho, agora coberto de grama. Era emocionante ficar ali, contemplando essas enigmáticas estátuas, e tentar inventar nossa própria explicação para elas. Uma noite, fizemos um piquenique em Rano Raraku e jantamos ali, por entre os moai, sob uma lua brilhante e redonda. Era tudo de um romantismo de tirar o fôlego. Estávamos à vontade naquela ilha isolada. Envolvidos pelo mar prateado, no qual uma lua pintava uma débil vereda dourada, nós, bem ao lado daquelas estátuas misteriosas de uma civilização perdida, começamos a lamentar que nossa jornada estivesse chegando ao fim. 

Fonte: A Volta por Cima, Editora Record

Saiba mais: Mundo Moss - Expedição Volta ao Mundo