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Boa leitura.
Bom domingo!
Decolando com um PT-19
PT-19 -Fairchaild
A tarde avançava e não havia ali a menor condição de pernoite. Com ajuda do “guarda campo”, do colega que viajava comigo e umas tábuas encontradas no local, desatolamos o avião.
O vento fortíssimo de rajadas, bom para pista mais curta,mas que estava encharcada e tinha árvores altas pouco depois do final.
Não ia ser fácil arrancar dali àquela tonelada de avião.
Demorei na decisão, achava a margem de segurança muito pequena e não havia escolha.
Já eram 16 horas, o céu encoberto ia escurecer rapidamente.
Pela grande experiência que tinha no PT-19 (Fairchaild), aceitei correr o risco de decolar naquelas condições que se apresentavam.
Dei partida no motor acertei o avião no eixo da pista, puxei o freio de estacionamento, ataquei o motor a pleno, contei até cinco e soltei o freio.
O avião deu uma arrancada para frente, caindo numa poça d´agua recuperando-se em seguida.
Corria e era sustado pelas sucessivas poças de lama que ia encontrando na pista.
Ao final do primeiro terço a velocidade ainda não dava para acionar o velocímetro.
O motor rugia a toda potência e a temperatura foi lá para as alturas.
A pista ia se consumindo e a velocidade pouco aumentava. As árvores preocupavam-me.
Sustentava a cauda baixa e caprichava na pilotagem.
Cockpit - PT -19
Na metade da pista o velocímetro só marcava 40 MPH; era um verdadeiro pandemônio de água e lama no parabrisa, causado pela hélice a 2.300 RPM, prejudicando a visibilidade.
Quando pude divisar algo, vi que as árvores à esquerda, eram as mais baixas.
O motor continuava a pleno com a temperatura atingindo alturas perigosas.
Não podia reduzir, pois necessitava da potência máxima naquele momento. Também não havia mais tempo e nem espaço para abortar a decolagem.
De repente o velocímetro marcou 50 MPH,pronto para o desafio, arranquei o avião do solo com determinação. Ele subiu em meio "stall" e afundou,não se mantendo no ar.
Por sorte nossa, voltou ao solo com todo o seu peso, num lugar enxuto e foi ricocheteado para o alto.
Com uma ligeira pressão no manche consegui segurá-lo no ar, em voo horizontal, a pouca altura. Cedi o manche para tentar ganhar velocidade.
A minha preocupação agora eram as árvores que se aproximavam com uma incrível rapidez; fiz uma ligeira pressão no pedal e fui mudando o rumo para as mais baixas.
Pressionei mais um pouco o manche para trás e venci as primeiras árvores que passaram rápidas sob as asas. Já com algum controle no comando de asa, mudei o rumo para esquerda e depois para à direita, desviando as copas mais altas que não consegui ultrapassar.
Várias vezes senti o impacto dos galhos no trem de pouso, que não chegou a prejudicar o voo a baixa velocidade. Lentamente fomos ganhando mais velocidade e altura, saindo fora do perigo daquela mata nativa, com árvores de até 30 metros de altura.
Iniciei uma subida normal até onde o teto permitiu, rumando diretamente para Salvador.
Não gastamos mais do que dois ou três minutos naqueles momentos de grande perigo e tensão.
Eu e o avião havíamos sidos submetidos a um verdadeiro massacre na nossa capacidade de resistir, atingindo o ponto de quase rotura.
Já na tranquilidade do voo de cruzeiro, o avião bem ajustado nos seus compensadores, o rumo certo, o tempo deu uma chance, e só então soltei os nervos que doíam e os músculos todos tremiam.
Esparramado na poltrona de comando aguardava a cidade de Salvador aparecer na proa.
Texto: Pery Lamartine - "ESCAPE,estórias de aviador"
Fotos: imagens Google
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