Chuva fininha no céu de Natal (RN). “Não choveu nenhum dia desses.Deve ser por causa da despedida”, dizia um mecânico do avião. Chovia também um pouco dos olhos dos pilotos. A chuva, a dos céus, parou. Abriu o sol definitivo e os homens vestidos de macacão, de alegria e de saudade andaram em direção ao guerreiro alado com olhares fixos. Dez aeronaves AT-26 Xavante da FAB – Força Aérea Brasileira foram pouco a pouco sendo acionadas, decolaram e tomaram os céus da capital potiguar. O dia 2 de dezembro de 2010 ficará na mente dos dez pilotos do Primeiro Esquadrão do Quarto Grupo de Aviação, e de outros militares da ativa e da reserva, que voaram na posição de segundo piloto. Era o voo de despedida do caça, depois de 39 anos a serviço ao Brasil. Trinta minutos depois pousaram. Os pilotos desciam e tocavam na aeronave. Sorriam e celebravam a nostalgia. Era uma profusão de sentimentos díspares, mas compreensíveis para quem entende o que significa dizer adeus a um amigo.
Depois do pouso de nove aeronaves, começou a solenidade presidida pelo Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito. Ele foi acompanhado por membros do Alto-Comando da instituição, por antigos comandantes do esquadrão, de um dos heróis brasileiros na Segunda Guerra, Major-Brigadeiro José Meira de Vasconcelos, além de representantes da sociedade civil do Rio Grande do Norte. Todos puderam assistir à chegada da última aeronave que ainda estava nos céus, pilotada pelo comandante do esquadrão, Tenente-Coronel Fernando Mauro Medardoni, na qual voou também o Comandante da Terceira Força Aérea, Major-Brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez. A tropa, em posição de sentido, contemplava o momento histórico. “Missão cumprida, guerreiro alado”, disse o oficial-general depois do pouso.
Um monumento alusivo à data da desativação dos AT-26 foi inaugurado pelo Comandante da Aeronáutica. Na homenagem, estão duas placas com as ordens do dia relativas ao evento e o símbolo do Esquadrão Pacau. O Comandante Geral de Operações Aéreas, Tenente-Brigadeiro Gilberto Antonio Saboya Burnier disse: “Hoje é um dia para olhar para os céus, para a história, para nossas próprias razões e emoções de piloto”, e enfatizou ser o Xavante o “glorioso Treinador de várias gerações de caçadores”. Nas palavras do Comandante da Terceira Força Aérea, o Xavante também foi homenageado. “A história deste guerreiro que se despede hoje da sua vida operacional ficará registrada em nossas mentes, no contumaz e inesquecível barulho, no som que atravessou o tempo, deixando imagens vivas em todos aqueles que voaram com ele”. As palavras definiam o estado de espírito.
Um dos primeiros pilotos de AT-26, o Tenente-Brigadeiro Ivan Frota, aos 80 anos, também participou do último voo da aeronave que entra para a história. “É um dos momentos mais importantes da minha vida”. Ele foi a Itália no início da década de 70 para fazer o relatório que indicava o avião para ser montado sob licença no Brasil pela Embraer e assim propiciar mais um grande passo para a indústria aeronáutica no Brasil. O Major-Brigadeiro Lauro Ney Menezes, antigo comandante do Pacau, também enfatizou o valor do momento. “As pessoas e as aeronaves passam. Ficam as atitudes, a experiência e o estado de espírito”, disse.
Nova geração
A solenidade contou ainda com a formatura de novos pilotos de caça do 2º/5º GAV e de helicópteros do 1º/11º GAV e após um ano de especialização com o avião Super Tucano A-29 e da aeronave H-50. “Foi uma solenidade muito especial mesmo porque tivemos tanto a despedida do Xavante como a formatura desses novos pilotos”, disse o Comandante da Aeronáutica em entrevista ao site da FAB. O Comandante ainda acrescentou a importância da transferência do 1º/4º GAV para Manaus.
Ao fim da solenidade, os AT-26 foram sendo retirados, um a um, do estacionamento de aeronaves. Permaneceram os A-29 Super Tucano. Como num encontro de épocas, de histórias fortes e vívidas. A despedida do Xavante em alto estilo teve a companhia do sol, que acabou por secar as lembranças da chuva do início da manhã. O céu se abriu e a alegria tomou conta da saudade.
Alguns AT26 Xavante remanescentes voarão somente no GEEV - Grupo Especial de Ensaios em Voo, unidade do DCTA – Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, sediado em São José dos Campos, SP, servindo ao curso de capacitação de pilotos de prova e de engenheiros de prova.
Fonte: Agência Força Aérea
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