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Voar é um desejo que começa em criança!

domingo, 6 de novembro de 2011

Especial de Domingo

L-188C ELECTRA II
Um avião chamado Saudade

Graças ao sucesso obtido com o projeto, desenvolvimento e produção do turbohélice C-130 Hércules para a Força Aérea Americana, a Lockheed viu nessa forma de propulsão a escolha mais sensata para o projeto de aviões comercias que deveriam entrar em operação até o final da década de 50.
Dois modelos estavam em estudo, conhecidos com CL-303 e CL-310, sem contudo atrair maior interesse por parte das empresas aéreas.
Porém no início de 1955 a American Airlines divulgou os parâmetros básicos para uma nova aeronave de médio alcance, incialmente para o uso em rotas domésticas, e em junho de 1955 a Lockheed assegurou uma encomenda de 35 unidades do novo avião. Era o modelo L-188 Electra, um quadrimotor turbohélice de asa baixa, baseado no projeto do CL-310.
A encomenda da American foi logo ultrapassada em quantidade por outra de 40 unidades feita pela Eastern Air Lines. Dois anos se passaram até que o primeiro voo fosse realizado, em dezembro de 1957, e naquela ocasião a carteira de encomendas já havia subido para 144 unidades. A entrada do serviço aconteceu em 13 de janeiro de 1959 com a Eastern Airlines, seguida pela American Airlines apenas 11 dias depois.
Entretanto, todo o otimismo inicial que a Lockheed tinha em relação a um futuro promissor foi abalado com a entrada em operação dos primeiros jatos, que prometiam a realização dos mesmos voos em menor tempo. Mas pior do que isso, coube ao Electra o triste recorde ser a aeronave comercial que teve o acidente fatal no menor espaço de tempo desde o início dos serviços regulares: Dias após sua entrega, o primeiro Electra da American mergulhou no Rio Hudson segundos antes do pouso em La Guardia, New York. Atribui-se o acidente a um erro de leitura de altímetro.
Mas o pior estava por vir: dois misteriosos acidentes fatais o primeiro em um Electra da Braniff e o segundo envolvendo uma aeronave da Northwest. Os Electras, nos dois casos, despedaçaram-se em pleno voo. Meses de exaustivos estudos descobriram o raro fenômeno de oscilação das naceles dos motores externos, que entrando em ressonância com a asa, simplesmente arrancavam-na. Conhecido como "whirl-mode", essa infeliz característica do projeto condenou o Electra a papéis secundários, provocando o cancelamentos de encomendas. O defeito foi sanado e o novo avião, conhecido como Electra II, mostrou todas as suas qualidades. A Lockheed construiu apenas duas versões básicas do Electra, o L-188A, o modelo padrão na linha de produção (o mais vendido) e o L-188C, que entrou em operação na KLM em 1959, contando com uma capacidade maior de combustível e maiores pesos operacionais, refletidos em maior disponibilidade de payload. A KLM foi a única empresa européia a operar Electras novos de fábrica. Atualmente um pequeno número destes aviões permanecem em operação, praticamente a totalidade deles como cargueiros.
A partir de 1967 a própria Lockheed converteu 41 Electras para cargueiros ou combis, com o assoalho reforçado e uma porta de carga dianteira, e ao longo dos anos outras empresas também passaram a realizar a conversão. Mas foi aqui mesmo no Brasil que o Electra teve uma carreira fulgurante. A Real encomendara, antes de ser comprada pela Varig, 5 unidades, que a empresa gaúcha relutantemente teve que receber em 1962 da American Airlines, dona dos aviões.
Mal sabia Rubem Berta, presidente da Varig e então contrário à incorporação das aeronaves, a importância que o Electra teria para sua empresa e para a aviação comercial brasileira. Em sua longa e segura carreira no Brasil, o Electra foi, entre tantos feitos, a aeronave exclusiva entre 1975 e 1991 da mais importante rota doméstica brasileira: a Ponte Aérea Rio-São Paulo. Além dos quinze operados pela Varig, um Electra em versão executiva por alguns anos foi a aeronave particular do grupo Pignatari.
Finalmente aposentado em 7 de janeiro de 1992, o Electra construiu no Brasil uma das mais inesquecíveis carreiras de nossa aviação comercial. Seus últimos voos saíram cheios de pessoas que foram voar apenas para se despedir da máquina. Comandantes chorando em entrevistas de TV, mensagens de carinho por parte de usuários frequentes, enfim, um tipo inesquecível.



Lockheed L-188C Electra II
Comprimento (m): 31,81
Envergadura (m): 30,18
Altura (m): 10,01
Motores/Empuxo: 4x Allison 501-D13 (3750shp)
Peso max. decol (kg): 33.112
Vel. cruzeiro: 602km/h
MMO/VMO: 652km/h
Alcance (km): 3.450
Tripulação técnica: 3
Passageiros: 104
Primeiro voo: Dez/1957
Encomendados: 160
Entregues: 160

Fonte: FlogBr